quinta-feira, 27 de junho de 2013

ANONYMOUS: AS IDEIAS POR TRÁS DA MÁSCARA DO PROTESTO

BRASIL
O Wikileaks ganhou um parceiro de peso em vazamentos de segredos na internet.
É o Anonymous, que é um grupo e também pode ser ninguém. Ele não tem rosto, mas sua
máscara virou viral nos protestos que galvanizam o país. Ele só se comunica pelo YouTube e
Facebook, está cheio de cópias falsas pelas ruas e nem mesmo se sabe se é um sujeito, um
evento ou um holograma. Tudo que se conhece dele é que imita a fisionomia de Guy Fawkes,
o herói do filme V de Vingança. Baseado num personagem real, um rebelde vingativo antimonarquista,é a inspiração do grupo de ciberativistas que quer mudar à força a política no
planeta — e no Brasil. Para uns, o Anonymous é uma organização direitista disfarçada e
preocupada em atacar a esquerda no poder e o governo Dilma em particular. É verdade que
não tem economizado em críticas à presidente brasileira. Mas os conservadores também têm
queixas: o Anonymous, para eles, é a figura do anarquismo e do caos, pregando a desordem
nas ruas e partilha de lucros de alguns empresários, como os do transporte coletivo. O certo é
que, nas passeatas, o mascarado com pseudônimo virou cult entre crianças e velhos, que
desfilam com sua face plástica e o bigodinho de mosqueteiro, e seus argumentos estão na
boca de jovens que estão indo às ruas. A figura é simpática, mas não inofensiva. Isso porque
o Anonymous bisbilhota e usa táticas de hacker, na tentativa de divulgar suas causas. O site
anonymousbrasil.com divulgou, semana passada, dados privados do governador do Rio,
Sérgio Cabral, do secretário da Segurança Pública (o gaúcho José Mariano Beltrame), do
polêmico pastor e deputado federal Marco Feliciano e dos jogadores Ronaldo Nazário e Pelé. Exibiu telefones, CPFs, listas de empresas, dados de faturamento. Em outros posts, expôs relatórios confidenciais das PMs brasileiras, incluindo e-mails pessoais de oficiais, pirateados, locais de blitze, contabilização de despesas. Quando um homem atropelou manifestantes em Ribeirão Preto, há pouco mais de uma semana, o Anonymous logo postou informações pessoais sobre ele no seu site. A tática em tudo imita o Wikileaks do proscrito Julian Assange, e o Anonymous faz questão de confirmar isso. O que é o Anonymous? Quem são seus integrantes? Zero Hora perguntou isso aos organizadores do site, mas não obteve resposta.

É certo que não se trata de um simples grupo de amadores a improvisar uma revolta via
mídias sociais. Foi em junho de 2011 que o primeiro vídeo dessa organização, com nítida
inspiração anarquista, vazou no YouTube, em meio a protestos na Europa. É coisa de
profissional, tem qualidade publicitária. Abre com uma vinheta caprichada, um globo,
sugerindo a universalidade do grupo. Logo depois vem o emblema da ONU, encimado por um ponto de interrogação. Surge finalmente na tela o protagonista, um mascarado, com voz
modulada, ao estilo locutor de rádio, masterizada e dublada no idioma do público-ouvinte:
português, quando no Brasil, ou inglês com tradução. A voz do mascarado é séria, às vezes
feminina, hipnótica, lembra algo do filme 1984 e do Grande Irmão (Big Brother) descrito por
George Orwell, aquele que controla a tudo e a todos. Mas a mensagem é o oposto disso:
prega descontrole, rebelião, ao estilo "contra tudo que está aí". O homem sem rosto e com
linguajar refinado fala que um dia acordou e decidiu lutar. Seu campo de batalha é o
ciberespaço. Seu recado é para "multidões que não têm voz, oprimidas pelos detentores de
poderes públicos e privados". Slogans que lembram os anarquistas do século 19, mas
impulsionados por tecnologia do século 21. Especialista e estudioso de mídias sociais, o
professor na Unisinos Felipe de Oliveira explica que a falta de identidade é proposital no
Anonymous, para poder realizar ações clandestinas, como a invasão de sites governamentais
ou privados. O que espanta o pesquisador é que o mascarado anônimo imprimiu sua cara
nos protestos, literalmente. Organizado dentro da internet e dali saindo para as ruas, o grupo
é sucesso de mídia (1,6 milhão de acessos numa resposta ao colunista global Arnaldo Jabor).

— É o rosto dessa mobilização, gostem ou não — diz Oliveira. Slogans não faltam ao
Anonymous. No Brasil, a organização prega um levante popular "para acabar com a farra de
imoralidade que vivemos em nosso país e em outras partes do mundo". Os ciberativistas
dizem que seus motivos são tão válidos como os da Turquia... porque o Brasil não tem
escolas em número suficiente, hospitais, postos de saúde, boas estradas, transporte. —
Enquanto isso, o governo gasta milhões com estádios de futebol e nas Olimpíadas. Importar
médicos de outros países é fácil... quero ver formar os seus e zelar para que eles não saiam
do país. Nós temos motivos, sim, para lutar. E é por muito mais que R$ 0,20 — diz o
mascarado, em um dos vídeos. Entre as causas defendidas está o apoio a que promotores
continuem investigando e a que reclama da taxação excessiva a que os brasileiros são
submetidos. — A PEC 37 (rejeitada ontem pelos deputados) é outro absurdo e terá sua vez
nos protestos. E não venha dizer que somos revoltosos de classe média. Pagamos mais
impostos que qualquer outro país do mundo e temos em retorno a pior educação e saúde...
vocês realmente achavam que essa apatia do povo seria eterna? Merecemos mais que isso.
Vamos fazer o que nossos pais não conseguiram na década de 80, vamos recriar a
democracia. E mostrar que as autoridades estão aqui para nos servir e não para nos explorar. Sua hora vai chegar — avisa o mascarado, com voz metálica.
(FONTE: ZH.COM)

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