sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Google x Apple:Android x iOS - Quem tem a supremacia?

 
Setembro de 2016
A supremacia do Google na disputa com a Apple. Android ofusca a do iOS e avança em outras frentes. Sem Steve Jobs o brilho da companhia foi afetado.
 

A supremacia do Google na disputa com a Apple

Fabricante do Android ofusca a do iOS e avança em outras frentes

Entre os anos 1980 e 1990, a Microsoft reinou sozinha com o seu o Windows nos computadores pessoais. Na virada do século, a Apple tomou a dianteira das inovações tecnológicas com seu iPod e a criação de um sistema próprio de navegação, lista que cresceu com iPhone e iPad nos anos seguintes, colocando a companhia em patamar acima dos principais concorrentes, como Motorola, Nokia e BlackBerry. Mas aí a Google decidiu apostar em um ecossistema próprio de olho no mundo móvel: em nove anos, o seu Android já está presente em 83% dos celulares ao redor do mundo. Com uma base de centenas de milhões de usuários, a gigante da internet vem dando as cartas nas principais tendências mundiais, dizem os especialistas, como realidade virtual, inteligência artificial e a chamada internet das coisas.
 
A percepção de que a Apple vem perdendo espaço na corrida tecnológica ganhou força há duas semanas, quando a companhia lançou o iPhone 7. Embora conte com melhorias em seu processador e em sua câmera, o aparelho não trouxe as inovações esperadas pelo mercado e pelos aficionados da marca de Cupertino, na Califórnia, criada por Steve Jobs, dizem os especialistas. Apesar de o volume de pré-venda do novo modelo estar quatro vezes superior ao da versão 6 nas operadoras dos EUA, a falta de novidades tem afetado as vendas gerais do celular da companhia, que apresentou queda de 9% nos últimos nove meses (fechados em junho), para 166,3 milhões de unidades.
 
No centro da disputa entre Apple e Google está o sistema operacional. As plataformas são diferentes: o iOS, criado pela empresa de Steve Jobs, é fechado e funciona apenas em seus próprios aparelhos. O Android, da Google, é aberto e recebe interações de fabricantes de celulares e até de operadoras de telefonia móvel, funcionando, assim, em quase todas as marcas do mundo. Considerado o divisor de águas para a gigante da internet, o sistema vem permitindo à Google ampliar seu domínio no mundo móvel, liderando a corrida para outros setores além do celular.
 
— A Google abriu várias frentes, criando opções reais para diferentes cenários de futuro. Como envolve diferentes indústrias, chamamos de ecossistema. Assim, a empresa vem conhecendo cada vez mais o consumidor e criando produtos ao redor de sua própria órbita. Há iniciativas em biotecnologia, robótica e inteligência artificial. Não há um nome por trás da empresa, e sim toda uma equipe. Talvez esse seja um dos trunfos da companhia — afirma Paula Chimenti, vice-diretora da Coppead/UFRJ.
Para ampliar seu domínio e estar à frente de novas soluções, a holding que controla a Google, a Alphabet, vem apostando em aquisições. Desde o ano passado, foram 24 compras nos mais variados setores, como o Waze (aplicativo de trânsito e navegação), Orbitera (um software de cloud computing), Apigee (produtora de software), Moodstocks (reconhecimento facial), Synergyse (tutoriais interativos), entre outros.
 
Para o engenheiro Hermano Pinto, o ponto de partida para a empresa passou a ser o seu sistema operacional móvel. No Brasil, reina quase absoluta: está em 94,4% dos aparelhos. Por isso, diz ele, a Apple talvez precise revisar o seu modelo de negócios.
 
— Nos últimos anos, a Google vem conseguindo criar uma grande camada de usuários e, com isso, vendendo seus serviços. Com esse domínio, consegue sair na frente de novas tendências, como o Google Glass, o óculos de realidade virtual, e até mesmo popularizar o Pokémon Go. Essas coisas só são possíveis quando há um sistema dominante. É quando você consegue identificar as tendências e sair na frente. A forte presença da Google no mundo móvel ajuda a criar uma percepção da supremacia da empresa na tecnologia — diz o engenheiro.
 
90% DA RECEITA VÊM DE PUBLICIDADE
Mas há desafios. Segundo Luiz Antonio Joia, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape/FGV), a Google está fora hoje das redes sociais, segmento dominado pelo Facebook. Ele lembra que, após Orkut e Google Mais, a companhia ainda está muito longe de incomodar Mark Zuckerberg.
 
— O Facebook está colocando tudo dentro de sua plataforma, como comércio, sistema de compras e transmissão ao vivo. O mundo caminha para a rede social móvel. Um desafio para a Google é entrar nessa. Enquanto isso, a empresa vem investindo em várias áreas. E não vemos esse drive, por exemplo, na Apple e na Microsoft, companhias que têm que se recriar, pois passaram a viver inercialmente, alimentando-se de seu legado — destaca Joia.
 
Mas, mesmo com várias iniciativas, a Google tem 90% de sua receita vinda apenas da publicidade — dilema semelhante enfrentado pelo Facebook (com 96% das receitas em publicidade). A Apple também é muito dependente de uma única fonte de receita — mas, no caso, das vendas dos iPhones, que respondem por 64% do faturamento da empresa e que vêm caindo. Paula, da Coppead, lembra que hoje o grande valor da Google, a venda de publicidade, é possível através das informações obtidas dos usuários.
 
— A questão é que hoje não há muita preocupação com a privacidade. Mas, no futuro, se houver mudanças nesse sentido, o modelo de negócios da companhia é posto em xeque. Isso é perigoso, por isso a companhia vem investindo em outras iniciativas com força. O Facebook tem desafio semelhante, embora venha criando o conceito de engajamento para a propaganda.
 
A jornalista especializada em tecnologia Cora Ronai, colunista do GLOBO, destaca que a Google vem investindo em projetos diversos, como a realidade virtual e a tecnologia 3D. Um trunfo da companhia, brinca Cora, é a “pesquisa”. Por isso, diz, a virada da Google é um somatório de fatores:
— Não foi um momento específico. Foi um trabalho consistente desde o início, de ter uma curiosidade de tecnologia e, muitas vezes, em áreas que nada tem a ver com seu core business. Eles não têm medo de fazer tentativas, algo que talvez a Apple tenha. No sistema operacional, o Android está dando um banho no iOS, com aplicativos rodando melhor nos aparelhos.
 
Segundo os especialistas, é difícil definir um período em que uma empresa consegue se manter no topo da cadeia da inovação. Joia lembra, por exemplo, que nomes como Motorola, Nokia e BlackBerry não conseguiram se manter na indústria justamente porque não tinham um ecossistema, não conseguindo ir além de seus aparelhos.
 
— É um desafio saber o momento exato de fazer a ruptura e diversificar. A Google é um polvo, com tentáculos parecidos com o que a Microsoft fez no passado, com e-mail, navegador. A Apple era dependente de Steve Jobs, que era um designer. E as pessoas pagam pelo design. Mas hoje a empresa não consegue evoluir nesse quesito. Se ficar parada, é engolida. Se correr, pode perder o foco — ressalta Joia, da FGV.
 
APPLE NÃO CONSEGUE EVOLUIR EM DESIGN
O especialista Sergio Miranda, do canal Loop Infinito, lembra que as pessoas confundem inovação com design. Segundo ele, é natural a expectativa em torno da Apple, já que os consumidores se acostumaram a ver produtos e serviços inovadores com grande frequência nas últimas décadas.
 
— Mas hoje sabemos que, sem o Steve Jobs, o brilho da companhia foi afetado. Ele sempre teve um sentido aguçado para a solução de determinados problemas. Hoje falta um foco. Uma nova fronteira que vem ganhando força entre Apple e Google são os aparelhos de streaming de conteúdo (set top box) para a televisão. Mas hoje quem lidera a tecnologia? É difuso. Em aparelhos celulares, há a Samsung. No streaming de vídeo, há o Netflix — afirmou Miranda.

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